6/09/2010

Paulinho da Viola



Bom, em primeiro lugar, muito obrigado a todos que comentaram e mandaram uma mensagem de força pra manter esse blog ativo. Juro que vou me esforçar para que isso aconteça!

Em 2008 comecei uma pesquisa sobre algumas questões estilísticas e técnicas sobre a música de Paulinho da Viola. A pesquisa é pouco mais que um arquivo de uma das coisas que mais gosto e costumo fazer: analisar e transcrever músicas.

Por que o Paulinho? Sinceramente não sei... Me indentifico muito com a música dele, apesar de nem conhecê-la tão bem (escutei poucos discos com cuidado). Na época também percebi que não havia nenhum trabalho de transcrição da obra dele, então eu estava num caminho ainda não desvendado (o que é ótimo para um trabalho acadêmico).

De qualquer forma, eu não tinha muita noção dos benefícios que uma pesquisa com esse propósito poderia me trazer e também trazer aos outros. Volta e meia continuo alguns estudos sobre suas músicas, e sempre saio impressionado com a conclusão de que ele é um compositor e intérprete sem igual. Pra mim, perceber essas coisas minuciosamente é uma das grandes alegrias de ser um músico "estudado".

Pessoalmente, simplesmente tirar os acordes de violão de qualquer samba é um baita estudo e vantagem no trabalho, já que um dos meus principais trabalhos é arranjar e tocar guitarra para o grupo Caxangá, grupo de samba que toca aqui em Curitiba (falo mais desse trabalho numa próxima oportunidade). Entender bem a música do Paulinho então, é um belo avanço na carreira.

Hoje peguei uma bela gripe e fui obrigado a cancelar todos os compromissos, o que me deixou com tempo pra brincar mais um pouco com a idéia da pesquisa. Tirei o CD "A Dança da Solidão" do armário e botei pra tocar junto. Depois de "passar" o CD com o violão, achei que seria divertido começar a transcrever algumas músicas. Isso me deu uma nostalgia da época da pesquisa, além de alegria e um pouco de stress.

Transcrever Paulinho significa "ajeitar" o cara na partitura. Acho interessante começar a pesquisa por aí, porque já de cara você conhece o lado intérprete do pesquisado, além do teu ao tentar colocar no papel ritmos e ornamentos vocais simplesmente impossíveis de serem transcritos com exatidão.

Como meu orientador André Egg me orientou na época, melhor era se limitar à análise harmônica, o que tenho feito e meio que fiz no próprio trabalho, mesmo sem reconhecer.

Apesar da dificuldade, as características pessoais na harmonia do Paulinho vão aparecendo aos poucos. Analisando "Guardei Minha Viola", vi mais uma vez uma coisa bastante comum nos trabalhos mais antigos. Os "erros" de notas entre harmonia e melodia, que sempre geram muita discussão entre eu e alguns amigos ao tocar Paulinho e/ou alguns sambas antigos.

O "erro" é a melodia do trecho em que ele canta: "Guardei meu violão, não toco mais"
Na palavra em vermelho, ele canta um lá natural, enquanto que o acorde que sustenta a harmonia no momento é um F#7, ou seja, ele canta uma terça menor onde só existiria terça maior. Não dá pra argumentar que é nota de passagem, ela precede um intervalo de sexta menor. Também não dá pra dizer que é tempo fraco, são notas sincopadas e ela tem a mesma duração que as outras (duas semi-colcheias) e aparece bem na melodia. Além disso não é a primeira vez que vejo esse tipo de erro nas músicas do Paulinho.

O interessante é que neste caso, o intervalo de segunda menor não é nem um pouco evitado, diferente de todos os outros casos que já analisei. O violão está bem na frente na mixagem e ataca o acorde com a terça maior bem clara no mesmo momento em que Paulinho canta o "meu" em lá natural. É que normalmente o violão fica bastante atrás na mixagem, e não é raro achar sambas em que não dá pra saber se um acorde é menor ou maior com sétima (dominante secundário - pra quem manja). Mas enfim, é a vida...

Tá aí uma curiosidade legal sobre a música de Paulinho da Viola.

Em geral não há nada de incomum na harmonia da música. Além do clássico VI7 - II7 - V7 - I no refrão e VI7 - IIm7 - V7 - I da estrofe, o G#7 aparece pra chamar a cadência do fim, que é a parte comentada anteriormente.

Quem quiser dar uma olhada na minha pesquisa pode ir lá na FAP e ler o trabalho encadernadinho e tudo. Vou dar um jeito de disponibilizar na net também, mas isso fica pra outra hora, pois a sopa tá fervendo na panela.

Guardei Minha Viola - clique para escutar e preste atenção no trecho comentado.

Um abraço a todos!